O autor deste blog NÃO reconhece o novo acordo ortográfico e usa sua própria ortografia baseada em critérios lógicos.

Conheça, também, o primeiro Aleateorias.

sexta-feira, 30 de dezembro de 2011

ALEATEORIAS XLI


Não tem jeito. Quando se trata de marcar presença na rede, o blog fica sempre em quarto ou quinto plano. Só não é mais abandonado do que meu Linkedin ou Google+ (que nem vou me preocupar em colocar o link aqui porque não vai servir para nada). Até tenho o que postar aqui (estou devendo a sinopse de pelo menos mais 3 filmes, um conto que está em fase final e cheguei a começar uma crônica sobre a morte de Sócrates — o filósofo que jogou futebol — que estava muito legal, mas travou na minha correria de fim-de-ano na escola), mas tudo isso fica para mais tarde ou até mesmo para nunca mais.
O ano de 2011 foi muito puxado e começou muito mal. Para a minha felicidade, ele termina muito melhor do que começou. Ainda assim, acho que eu gostaria de jogar boa parte dele no limbo. É claro que foi um ano de aprendizado, como são todos os anos (ou, pelo menos, deveriam ser), mas existem lições na vida que eu preferia aprender apenas ouvindo uma palestra ou lendo um livro. Não sou um empirista e, portanto, me contento com a teoria na maior parte do tempo. Pena que não seja possível viver teoricamente.
No balanço geral, as duas coisas mais importantes que aprendi este ano foram: (1) não consigo viver sem a Anna (se ainda restava alguma dúvida, os 3 meses que ficamos separados fecharam absolutamente essa questão) e (2) minha sobrevivência na profissão depende imprescindivelmente de eu recuperar algo que eu tinha de sobra no começo da carreira, que é me importar de verdade com meus alunos (ao longo dos anos, a postura dura e sádica foi muito útil, mas não serve para essa geração — deixar claro que sempre me importei, embora não de maneira igual para com todos, mas nunca fiz muita questão de demonstrar e me parece que a ausência dessa demonstração de interesse acabou mesmo se transformando em desinteresse).
A primeira resolução para o ano que vem (e, provavelmente, a única que realmente vai ser cumprida) é retomar e terminar a pós. Tenho que refazer um semestre de créditos, porque não entreguei os trabalhos de nenhuma matéria, e o TCC. Espero que a paciência e o bol$o agüentem o tranco.
No campo das esperanças, eu realmente quero parar de dar aula de manhã. Esse negócio de acordar às 5h é uma verdadeira violência contra minha natureza notívaga. Tenho certeza de que grande parte do meu stress e de todos os problemas de saúde decorrentes está relacionada ao fato de eu ser forçado pelas convenções sociais e pelas regras do sistema educacional do Estado a trabalhar na hora em que meu cérebro sabe que precisava estar descansando.
A propósito dos meus horários de funcionamento, muita gente me entende mal. Não quero ficar acordado a noite toda para pegar baladas, bebedeiras ou qualquer coisa que a noite paulistana oferece (embora vez ou outra isso possa até ser uma opção). Quero simplesmente poder usar as madrugadas para ler, escrever, desenhar, corrigir e preparar provas e trabalhos, ou seja, fazer todo o meu trabalho mental na hora em que meu cérebro realmente funciona e dormir na hora em que ele não funciona. Meu ritmo ideal seria dar aulas à tarde e à noite, voltar para casa, comer, virar a noite produzindo, dormir lá pelas 5h da manhã e acordar lá pelo meio-dia. Simples assim.
Não sei se vou escrever mais alguma coisa até o ano que vem. Provavelmente não. Então, deixo a todos os meus poucos e fiéis leitores meus votos de um 2012 muito melhor que 2011 (da minha perspectiva, isso não deve ser tão difícil), com sucessos e fracassos (porque a gente aprende com isso) na medida certa. No mais, o recado da Mafalda abaixo diz tudo.

quinta-feira, 1 de dezembro de 2011

DANCE TOWN (Dance Town) (Coréia do Sul) (2010)

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Jung-Nim Rhee (Rha Mi-ran) teve que fugir da Coréia do Norte para não ser presa. Agora, tenta se adaptar à vida numa grande cidade da Coréia do Sul, enquanto espera por notícias do marido.
Silencioso como todos os filmes sul-coreanos que já assisti, Dance Town é, na verdade, uma pequena coleção de histórias que giram em torno da protagonista. Há a adolescente grávida, a moça bem-sucedida no trabalho e encalhada na vida amorosa, a religiosa que faz caridade, o solteirão em busca de aventura… E a sra. Rhee observa e é observada por todos.
Essa linguagem de cotidiano novelesco já foi usada em vários filmes. Em geral, as histórias têm vários tons, assim como a vida. Dance Town foge dessa linha, apresentando apenas histórias dramáticas — em maior ou menor grau, mas nada que alivie a sensação de que é muito drama para um filme só, mesmo que não seja tão longo assim.
De modo geral, os coreanos se afirmam como um povo separado em dois Estados. Dance Town deixa muito claro que o sentimento não é tão unitarista assim. Embora sejam ligados pela língua e pelos costumes, coreanos do sul e do norte se provam muito distantes quando confrontados no dia-a-dia, havendo muito espaço para curiosidade, desconfiança e ressentimento. No final das contas, o que une o povo coreano é o sentimento de opressão, ainda que ela exista de maneiras bem diferentes em cada lado da fronteira.

quarta-feira, 23 de novembro de 2011

TATSUMI (Tatsumi) (Cingapura) (2011)

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Nascido durante a II Guerra Mundial, Yoshihiro Tatsumi (vozes dele mesmo e de Tetsuya Bessho) logo descobriu a paixão pelo desenho e pelo mangá, tornando-se uma das jovens promessas do mercado editorial japonês. Já adulto, torna-se um dos líderes do movimento gekigá, o quadrinho japonês adulto. As mudanças de passagem da vida do protagonista são intercaladas por adaptações de suas histórias curtas mais famosas e que, de certo modo, traduzem o momento.
Baseado na graphic novel auto-biográfica Gekiga Hyōryū (“Graphic novel à deriva” ou algo assim, ainda sem publicação no Brasil), Tatsumi é uma obra de animação que lembra muito os clássicos japoneses dos anos 60-70, tanto pelo estilo do desenho quanto pela técnica de animação, com cenários estáticos e apenas os elementos primordiais animados em poucos quadros. Prato cheio para apreciadores mais antigos da animação japonesa.
Recado de sempre: desenho animado não é só coisa de criança! Esse certamente não é.

quarta-feira, 12 de outubro de 2011

SEM SAÍDA (Abduction) (EUA) (2011)

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Nathan (Taylor Lautner) é um adolescente comum, com pais caretas mas muito carinhosos, uma antiga queda por Karen (Lilly Collins), a vizinha da frente, e terapia para lidar com a agressividade. Mas ao descobrir sua foto num site de crianças desaparecidas, sua vida vira de ponta-cabeça e ele começa uma perigosa jornada em busca de respostas.
Típico filme de ação, que não tenta fugir dos clichês ou surpreender a platéia. Por isso, acaba sendo uma boa diversão se você não tem nada a fazer. Ou seja, se resolver esperar sair na TV, você realmente não perde nada. Se quiser ver no cinema, não vai achar que foi enganado ou que perdeu o dinheiro do ingresso, desde que não espere um grande filme.
As seqüências de ação são bem executadas, o roteiro é bem encaixado, a caracterização das personagens é bem feita (até porque não existe nenhuma complexidade ou profundidade), a trilha sonora é imperceptível (cumpre a função de criar clima, mas nada que fique na memória). Mas, lembre-se, isso tudo só funciona se você estiver com a chave “é só um filme” ligada.
Último comentário: o título em português é ruim e não diz nada sobre o filme, mas o título original é pior, porque é spoiler.

sábado, 1 de outubro de 2011

QUANDO AS PALAVRAS NÃO RESOLVEM VI


Há dias que estou questionando (de novo) meu trabalho como professor. E, sempre que faço isso, a vontade de largar tudo só aumenta. Nessa hora, algo acontece ou aparece e me faz lembrar o que é que estou fazendo aqui. Ainda não é hora de parar. É hora de mudar, certamente, mas não de desistir. Por eles.

sábado, 17 de setembro de 2011

A CAIXINHA DE MÚSICA

Quando comecei a vida de blogueiro, demorei a perceber que poderia apresentar meus contos aos amigos. Dizem que quem escreve em casa, na privacidade de seu quarto ou coisa que o valha, faz questão de mostrar ao mundo o que escreve, enquanto quem escreve em lugares públicos faz exatamente o contrário. Sou mais o segundo caso, mas às vezes saio da casca.
No momento, estou trabalhando num conto novo (ou velho, já que estou trabalhando em cima do mesmo argumento há alguns anos) e não sei quando vou terminar. Enquanto isso, reapresento meu material mais antigo.
O conto que apresento a seguir já foi publicado no antigo Aleateorias e, de todo o material que escrevi ainda no colegial, é o melhor que consegui — na verdade, fiz a primeira versão dele no colegial e gastei um bocado de tempo re-escrevendo, até chegar à versão final anos mais tarde. Não é grande coisa para quem lê, mas certamente me diverti muito escrevendo.


Não achei os créditos da foto. Se alguém souber, por favor, me avise.

Era um dia de chuva, desses em que não há o que fazer, e Ângela estava sozinha no quarto, olhar fixo na janela, talvez observando pessoas e carros que passavam pela rua, talvez seguindo o caminho percorrido pelas gotas que se chocavam contra o vidro, ou talvez apenas contemplando a própria beleza refletida naquele espelho diáfano que a separava do resto do mundo. Ou talvez estivesse apenas olhando para lugar nenhum, o que parecia estar mais próximo da verdade. No rosto, um olhar distante e sem brilho, como se ela não estivesse ali, apenas uma casca vazia e sem vida.
Continuou assim por algum tempo, imóvel e calada, até que de seus finos lábios rosados saíram algumas palavras em leve tom de indignação:
— Odeio chuva... — e voltou ao silêncio.
De fato, ficar trancado em casa sem o que fazer ou com quem conversar não é o que a maioria das pessoas consideraria interessante, principalmente quando se sabe que fora dali o povo se ocupa e se diverte com as mais diversas atividades. Ângela não gostava de rádio ou televisão, menos ainda de jornais e revistas. Também não tinha amigos na cidade. A bem da verdade, não os tinha em lugar nenhum. Era uma menina solitária e amarga e queria continuar desse jeito.
Mas nem sempre fora assim. Dias de chuva como aquele sempre a faziam lembrar de como tudo tinha sido tão bom. E foi para fugir dessas lembranças que ela afastou o olhar da janela. Seus olhos percorreram cada detalhe do quarto até pousarem sobre um pequeno porta-retrato virado sobre a mesa.
Ângela hesitou um pouco, mas estava sozinha em casa e podia se permitir expressar os sentimentos, ao menos por alguns instantes. Pegou o porta-retrato e virou-o para que pudesse ver a foto. Lá estava ela, cinco anos mais nova, ao lado dos pais e dos irmãos, todos sorridentes, pois a pequena princesa completava dez anos. Ângela ainda se lembrava de cada momento da festa, das brincadeiras, dos doces, dos convidados, dos presentes... Havia um que era especial, propositadamente esquecido no fundo de uma das gavetas.
A garota, então, abriu a última gaveta do guarda-roupa e dela retirou um pequeno embrulho. O papel e a fita, já bem gastos, indicavam que o pacote fora feito e desfeito muitas vezes desde aquele aniversário. Com o mesmo cuidado de cinco anos atrás, Ângela desatou o laço e desdobrou o papel e, de dentro da pequena caixa de papelão colorido, retirou a caixinha de música que antes fora de sua mãe e, por um breve instante, sorriu.
Ainda se lembrava da alegria sentida no momento em que viu o presente que sua mãe lhe dera. Tantas vezes a vira cantando e dançando ao som daquela melodia suave, tantas vezes tentara segui-la em seus passos e notas... Aquela caixinha era seu maior desejo e agora era sua, como antes fora de sua mãe, da mãe de sua mãe e da mãe da mãe de sua mãe. Aos muitos sonhos de outras gerações depositados naquela caixinha, somavam-se agora os de Ângela.
Como se estivesse hipnotizada, a menina abriu a caixinha e a música encheu o quarto. Sorriu como sorrira na festa e como sorrira sempre que vira sua mãe cantando e dançando e a cada beijo de boa-noite que ela lhe dera. Sentia-se feliz e segura perto dela.
Voltou a olhar pela janela. As pessoas passavam sem saber que eram observadas. Ângela as via apressadas ou tranqüilas, sozinhas ou acompanhadas, e de cada uma tentava imaginar os sorrisos, as angústias, as paixões, os temores. O que não daria para ser parte de tudo aquilo outra vez? Queria gritar e mostrar ao mundo que ainda estava viva! Mas não havia quem a ouvisse naquela tarde. Estava completamente só.
Abriu a janela, mas não gritou. Simplesmente aproximou-se o máximo que pôde, abriu os braços, fechou os olhos e inclinou a cabeça para trás como se esperasse pelo abraço de uma pessoa querida que não via há muito tempo. As cortinas agitadas pelo vento acariciavam a menina com suaves toques de renda branca perfumada, convidando-a a dançar, enquanto o vento fazia festa em seus longos cabelos castanhos e a chuva gentilmente cobria-lhe a face com dezenas de pequenos beijos molhados. A música tornava-se cada vez mais intensa e para Ângela parecia que o mundo girava à sua volta como se tivesse trocado de lugar com a pequena bailarina que dançava sobre a caixinha. Aquele momento de exaltação dos sentidos trazia-lhe ao coração a crescente sensação de... Nada. Vazio. Não era a mesma coisa. Não odiava, realmente, a chuva. Odiava não poder mais senti-la como antes.
Despertando do transe, Ângela fechou a janela. Estava molhada e com frio e a música já não a alegrava mais. Lembranças que, sem sucesso, se esforçara para apagar, agora voltavam muito mais fortes.
Era noite, chovia muito, e Ângela estava quase adormecida no banco de trás do carro. Segurava junto ao corpo o melhor presente de aniversário que já ganhara em toda a sua curta vida., sem tentar esconder a felicidade que tinha no coração. Os irmãos mais velhos dormiam ao seu lado e os pais conversavam alegremente sobre a festa. Ângela dormiu. Então, ouviu apenas o grito de sua mãe bruscamente interrompido e dores terríveis tomaram seu corpo. Uma grande confusão de luzes e sons formou-se ao seu redor e, então, tudo ficou escuro.
A escuridão durou vários dias. Vozes desconhecidas mas gentis falavam-lhe muitas coisas, mas pouco lhe diziam sobre sua família ou sobre o que era aquele lugar. Sentia dores fortes por todo o corpo, tentava mover-se sem resultado. Teve medo muitas vezes e o tempo todo sentiu-se só. A única companhia que tinha quando as vozes iam embora era a melodia que conhecia tão bem. Era sua única fonte de conforto.
Os dias seguintes foram difíceis. Mudando de casa em casa, vivendo com parentes que mal conhecia, tentando aprender a aceitar a dura verdade de que estava sozinha. Tornou-se amarga, calada, triste, em nada lembrava a menina alegre e cheia de vida que fora antes. O cuidado e a atenção de avós, tios e primos não compensavam o que ela perdera naquela noite.
Morava agora com uma tia que mal encontrava. A casa grande parecia ainda maior quando Ângela ficava sozinha, o que acontecia durante a maior parte do tempo. A menina até preferia a solidão dentro de casa. Ao menos assim, não precisava se esforçar para ser simpática. Podia ficar ali, de cara amarrada, de mal com a vida e com o mundo sem ninguém por perto para sentir pena dela ou recriminá-la por ter desistido tão facilmente de viver.
Lágrimas rolaram pelo rosto, ao mesmo tempo belo e sem vida. Ela não se esforçou para contê-las. A música continuava tocando e trazendo lembranças. Sentiu o coração encher-se de tristeza e alegria. Queria cantar e chorar, brincar e gritar. As lembranças continuavam a vir como uma tempestade que varre as praias, um espetáculo de rara beleza, mas de uma beleza aterradora, destruidora. A cada lembrança, uma lágrima. Sua mãe cantando e dançando, as brigas e brincadeiras com seus irmãos, as histórias contadas por seu pai, belas lembranças que só lhe traziam mais sofrimento.
A música tornou-se mais lenta até desaparecer. O quarto mergulhou outra vez no silêncio quebrado apenas pela chuva lá fora. Ângela fechou a caixinha, guardando novamente todos os sonhos de menina que ainda esperavam pelo dia em que se tornariam reais. A festa tinha terminado e Ângela jamais se esquecera disso nos últimos cinco anos. Não poderia.
Voltou-se novamente para a mesa e mais uma vez deixou o porta-retrato virado sobre ela. Refez o embrulho e o guardou de volta no fundo da gaveta. Depois, enxugou o rosto com um lenço de papel. Com a força que lhe restava nos braços, fez mover aquela fria cadeia que a prenderia por toda a vida e voltou a olhar pela janela. Sua cadeira de rodas seria sua única companhia no restante da tarde. A menina até poderia jurar tê-la ouvido, num sussurro frio e metálico, desejar-lhe um feliz aniversário, enquanto a chuva lá fora tornava-se mais forte.

domingo, 11 de setembro de 2011

ZAPPING XXXIX


© Comstock

Não sou do tipo supersticioso, mas começo a desconfiar que minha família foi escolhida para provar que a vida sem carro é possível, mesmo numa cidade gigantesca como São Paulo. Digo isso porque, nos últimos dois meses, o carro ficou parado por conta de um acidente leve, seguido por reparos e revisão. Hoje, ele foi furtado. Felizmente, não estávamos por perto e, portanto, não corremos nenhum risco. Agora vem aquela burocracia toda para liberação do seguro, a procura por um carro novo (ou semi-novo)… Felizmente, já ficamos tanto tempo sem carro que estamos bem adaptados.
Assunto inevitável hoje: há dez anos, eu estava chegando em casa quando entrei na sala e vi a TV ligada. O primeiro avião tinha acabado de acertar a primeira torre e ainda se falava em acidente. Assisti, ao vivo, o segundo avião atingir a segunda torre. Uma amiga americana estava hospedada em casa naquele dia. Levei alguns minutos para conseguir acordá-la e fazê-la entender o que estava acontecendo. Acho que a única palavra capaz de descrever a reação dela é “perplexidade”.
Nunca troquei mais do que algumas palavras no corredor ou no elevador, mas sinto saudades dos nossos antigos vizinhos. Eles não fumavam. Sei lá quem é que está morando no apartamento ao lado, mas a fumaça do cigarro enche o corredor e passa por baixo da nossa porta, entra pela janela, sei lá por onde mais. Só sei que o cheiro é forte e meus olhos ardem. Estranho, porque estou mais do que acostumado com pessoas fumando do meu lado. Qualquer que seja a explicação, a situação é bem desagradável.
Estou cada vez mais convencido de que preciso arranjar outro trabalho. Só não sei ainda o que vai ser. É provável que o plano inclua ficar de olho em concursos públicos em outras áreas que não envolvam escolas. Aceito sugestões.
No momento, acompanho a final do pré-olímpico de basquete, zona americana. Brasil e Argentina garantiram a vaga em Londres 2012 e agora disputam o título. Vendo o jogo, dá para notar a grande diferença que existe entre os dois times. Embora o Brasil realmente tenha feito um bom jogo e batido a Argentina na segunda fase do torneio, é um time muito inconstante. Falta alguém para realmente pensar as jogadas.
Meu palpite é que os clubes fizeram um acordo para o Corinthians ganhar o Brasileirão deste ano. Mais uma vez, o time jogou mal e perdeu. Mas os outros concorrentes diretos ao título também perderam, exceto o Vasco, que pelo menos arrancou um empate. Parece que, em vez de campeonato de pontos corridos, estamos vendo um campeonato de pontos parados.

quarta-feira, 7 de setembro de 2011

ENCRUZILHADAS

© Images.com/Corbis

Deu vontade de escrever hoje. Só não sei sobre o quê. Assuntos não faltam. É Dia da Independência, Rogério Ceni está fazendo sua milésima partida pelo São Paulo neste momento, tenho uma série de inquietações na cabeça, qualquer coisa seria um tema muito bom para um post. Mas o fato é que, embora eu queira escrever, não tenho a tranqüilidade necessária para amadurecer alguma idéia.
Escrever é uma das coisas que me ajudam a colocar as idéias em ordem. No geral, resolvo isso dentro da minha cabeça mesmo, mas às vezes as coisas são tão agitadas aqui dentro que escrever se torna necessário. A bem da verdade, escrevo muito mais para mim mesmo do que para meus leitores. Enquanto a maior parte dos blogueiros escreve para compartilhar suas idéias com outros, eu escrevo para que eu mesmo tenha uma visão mais clara do que estou realmente pensando. Mais uma demonstração da minha absurda tendência a me colocar no centro do universo — conceitual, não físico, é claro.
Sinto-me um tanto perdido no momento. E não posso dizer o que me faz sentir isso porque também não consigo identificar a origem. Ao menos não por enquanto. Talvez até o fim do post eu descubra. Ou o fim da vida, que provavelmente vai demorar mais do que o fim do post para chegar.
Houve um tempo em que não ter certeza das coisas me incomodava muito. Também é verdade que sempre gostei de improvisos, como decidir na última hora o que comer ou só saber o que tem no cinema na hora de entrar na fila, mas essas são aquelas pequenas incertezas que a mente comum consegue assimilar com facilidade. Também é verdade que meu quarto parece ser uma demonstração muito precisa da descrição de como funcionam sistemas caóticos e que por isso me obriguei a ter uma mente muito organizada para compensar o fato de que é muito difícil encontrar alguma coisa específica aqui. Ordem e caos, luz e trevas, bem e mal, certeza e dúvida. Sempre me considerei o exemplo vivo da ambigüidade universal.
Venho descobrindo que a sensação de incerteza já não me incomoda tanto. Ou, para ser mais claro, me incomoda, mas de uma maneira diferente. Como qualquer outra pessoa, experimento um pouco de frustração por perceber que não consigo controlar muita coisa na minha vida e, portanto, sou obrigado a reconhecer que eu seria um péssimo centro do universo, o que, felizmente, não sou. Ao mesmo tempo, é bom saber que minhas imperfeições me obrigam a me submeter aos desígnios divinos, às convenções sociais e ao julgamento de outras pessoas, mesmo que eu não reconheça a capacidade da maioria das pessoas de realmente me julgar com coerência e justiça.
Antes que me acusem de ser excessivamente arrogante — e reconheço que sou — e de não reconhecer qualquer autoridade sobre mim, devo dizer que realmente acredito em Deus e em seu julgamento — que quase certamente resultaria na minha condenação — e na doutrina protestante da salvação pela fé no sacrifício de Cristo, o que, de certo modo, me isenta da obrigação de ser perfeito, uma vez que o reconhecimento da graça divina significa, necessariamente, reconhecer a minha incapacidade de atingir a perfeição por minhas próprias forças, embora não me torne menos culpado por não atingir os padrões de santidade que seriam logicamente exigidos de alguém que acredita carregar o título de filho (adotivo) de Deus — o que novamente me coloca na lista dos condenáveis.
Acho que essa é a parte legal da incerteza. Sentir-me perdido, sem nem saber por quê, me obriga a reconhecer que dependo muito mais do cuidado e do amor de Deus do que minha quase constante certeza de auto-suficiência me faz acreditar. E se alguém tão arrogante quanto eu consegue reconhecer isso, talvez eu não seja um caso tão perdido assim.

sábado, 3 de setembro de 2011

OSSOS DO OFÍCIO VIII: NARCISO DESENGANADO


© Images.com/Corbis

Definitivamente, preciso de ajuda. E rápido.
Desde que me tornei professor — e lá se vai uma década nessa brincadeira —, sempre achei que meu maior diferencial fosse a habilidade de dar um sentido integrado a conteúdos que alunos e professores costumam conceber como compartimentos estanques. Grande parte do respeito que conquistei como profissional se deve a um considerável volume de informação de diferentes áreas do conhecimento que consigo articular para que meus alunos sejam apresentados a um cenário muito maior do que a mera descrição dos fatos ou o tradicional binômio nome-data. Mesmo aqueles alunos que não conseguiam me acompanhar, respeitavam meu trabalho porque reconheciam que diante deles estava alguém que tinha um compromisso real com o desafio de provocar o questionamento numa geração intelectualmente passiva. E, enquanto pedagogos e professores ainda tentam entender o real significado da interdisciplinaridade — a última moda nos discursos sobre educação escolar —, ando com ela de braço dado, totalmente confortável com temas e dados que “não têm nada a ver com história”.
Não perdi essa habilidade e, sem falsa modéstia (ao menos sou honesto para admitir que me falta a verdadeira), ela está muito mais afiada hoje do que no início da carreira. Já dizia Aristóteles que a excelência é muito mais uma questão de prática do que de talento. Mas o resultado este ano é pífio, deplorável, irrisório, absolutamente descartável. Se existe um troféu para o professor ineficiente, este ano sou um sério candidato.
Eu poderia colocar a culpa nos alunos, em seu desinteresse, em sua incapacidade de estabelecer prioridades corretamente, em sua preguiça de pensar, em sua preocupação exclusivamente com a diversão e o momento e não com o futuro. Ou poderia colocar a culpa nos pais, que não dão limites aos filhos, que não ensinaram a importância dos estudos, que os abandonaram aos cuidados das babás eletrônicas televisão e internet, que lidam com a escola como se fosse apenas um lugar para deixar os filhos enquanto cuidam de seus afazeres, sem se preocupar com o efetivo cumprimento dos papéis de escola e estudantes. Ou, ainda, também poderia culpar os professores picaretas que fingiram que ensinaram alguma coisa nos anos anteriores, que se preocuparam apenas em reproduzir conhecimento e não em construí-lo. E isso se chegaram tão longe. Posso culpar os políticos, que não dão ao professor as condições adequadas de trabalho, de modo que estamos todos esgotados física e emocionalmente por causa da falta de reconhecimento, da falta de estabilidade financeira, do excesso de trabalho e da sobreposição de papéis — professores são pais, psicólogos, médicos…
Tudo isso é uma parte muito grande do problema, mas, se não existiu desde que a primeira escola foi criada, nada disso é novidade desde muito antes de eu me tornar professor. Talvez o grau de profundidade desses problemas tenha aumentado nos últimos anos, mas eles sempre fizeram parte da minha rotina e, numa perspectiva mais global, meu trabalho sempre foi muito bom. Então, se as coisas este ano estão dando tão errado, a culpa certamente é minha.
Refletindo muito nessas últimas semanas, percebi que ainda não consegui encontrar um ponto de contato com meus alunos. Não consigo me comunicar. Por estranho que pareça, eu, que sempre tive fama de carrasco e de só ver o aluno como aluno e não como pessoa, sempre consegui capturar a atenção da maioria. E nunca fiz uso de nenhum recurso inovador (mesmo porque o Estado só me dá o giz e a lousa) ou de alguma estratégia mirabolante. As coisas sempre aconteceram com naturalidade.
Os pedagogos dizem que é preciso dar relevância ao conhecimento para que ele se torne atraente aos estudantes. Dizem, também, que ele deve ser apresentado de maneira a atiçar a imaginação e a criatividade. O que esses pedagogos esquecem ou ignoram — acredito mais na segunda opção — é que a relevância precisa de pelo menos alguns minutos para ser construída e que imaginação e criatividade dependem de já haver um universo conceitual razoavelmente sólido. Nada disso se consegue sem comunicação, sem vínculo. E é isso que ainda não consegui. E já estamos em setembro.
Talvez seja um problema com esta geração específica. Talvez a turma seguinte seja melhor, mas não consigo apostar nisso. Todos os meus colegas estão insatisfeitos também. A maioria ainda acha que o problema está nos alunos, na família, nos professores anteriores, no sistema. Não perceberam que não estão conseguindo se comunicar. Eu percebo o problema, mas não tenho a menor idéia de como consertar as coisas com os recursos que tenho, sejam materiais ou intelectuais.
Talvez seja mesmo hora de seguir adiante e fazer outra coisa da vida. Um professor que não se comunica pode não ser pior do que um sem compromisso ou sem conhecimento, mas é quase tão inútil quanto.

segunda-feira, 29 de agosto de 2011

FUTEBOLÍSTICAS XI: FUTEBOL NÃO É UMA LÍNGUA UNIVERSAL


Se o futebol é, como dizem, uma língua universal, existe, no mínimo, um grande regionalismo em torno da palavra “vergonha”. Suspeito até que ela seja desconhecida por aqui, uma daquelas palavras que não podem ser traduzidas para o português.
Envergonhados pela derrota por 8 x 2 diante do Manchester United, os diretores do Arsenal anunciaram que os torcedores que foram até Manchester receberão, gratuitamente, ingressos para outro jogo do Arsenal ainda a ser marcado. É a terceira vez que vejo notícia parecida, com ingressos gratuitos ou devolução do dinheiro após derrotas vexatórias.
Lembro, também, de um jogo na Holanda, em que um jogador chutou a bola para o goleiro do outro time em retribuição ao fato de que a bola tinha sido colocada para fora para que seu colega fosse atendido. A bola entrou no gol e, para compensar, o time que acidentalmente obteve vantagem no placar simplesmente abriu caminho para que o jogo voltasse a ficar empatado. E, para evitar qualquer problema de favorecimento em sites de apostas, o goleiro que levou o gol inusitado foi o escolhido para levar a bola até o gol adversário e empatar o jogo.
Situação semelhante ocorreu em jogo na Inglaterra, quando um gol relâmpago marcou o início de uma partida que foi imediatamente suspensa por falta de condições de jogo — não lembro se era chuva ou outra coisa do gênero. Como o jogo não tinha rolado pelo tempo mínimo necessário para ser considerado válido ou interrompido, uma nova data foi marcada e o jogo começaria do zero. Antes do apito inicial, os jogadores do time que tinha marcado o gol no jogo cancelado foram avisados pelos adversários que poderiam simplesmente levar a bola até o gol para que o jogo recomeçasse com o mesmo placar do anterior. O expediente de usar o goleiro também foi aplicado nesse caso.
Há poucas metáforas que explicam o Brasil tão bem quanto o futebol. O sociólogo Gabriel Cohn bem disse que “o sociólogo no Brasil que não tiver os fundilhos das calças puídas pelas arquibancadas não entenderá este país”. O conceito de vergonha está intimamente ligado ao conceito de honra. Duas coisas que praticamente ignoramos por aqui, quando o assunto é futebol.
É fato que a Europa não é o céu e nem o Brasil é o inferno, mas não deixa de ser frustrante ver que, enquanto lá fora pelo menos alguns dirigentes e jogadores se preocupam em preservar o espírito esportivo, aqui aplaudimos dirigentes clubísticos e políticos que defendem a aplicação sem transparência de recursos públicos em estádios de futebol para uma Copa do Mundo que o povo brasileiro só acompanhará pela TV. E denunciar isso é antipatriótico, é ser sabotador, é torcer contra o país. Se o patriotismo é o refúgio dos canalhas, o futebol é o prato em que eles comem.

domingo, 28 de agosto de 2011

SUPER 8 (Super 8) (EUA) (2011)

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Condado de Lillian, Ohio, verão de 1979. Joe (Joel Courtney), Alice (Elle Fanning) e seus amigos participam da produção de um filme amador, quando testemunham um incrível acidente de trem, que marca o início de outros tantos acontecimentos estranhos. Nos dias que se seguem, os garotos só querem terminar o filme, mas a presença dos militares e as desavenças entre os pais de Joe e Alice parecem ser só uma parte muito pequena do problema.
Depois de algumas produções consideradas desastrosas, como o quarto Indiana Jones, Spielberg parece estar tentando voltar às origens. Super 8 é para os adolescentes de hoje o que E.T. foi nos anos 80 para as crianças (e para alguns já um tanto crescidinhos à época): uma fábula disfarçada de ficção científica. É verdade que o trabalho de escrever (razoável) e de dirigir (competente) foi de J. J. Abrams, mais conhecido por produzir séries bem-sucedidas na TV, como Alias e Fringe, mas é impossível não perceber a mão de Spielberg no que ele realmente sabe fazer: efeitos especiais e trabalhar com atores-mirins.
O enredo é bem previsível, como são, em geral, as produções spielberguianas. Os efeitos especiais não chamam a atenção, para bem ou para mal, porque já estamos mais do que acostumados com eles, mas ajudam a criar um pequeno clima de tensão, mesmo que seja tudo muito óbvio. O que realmente segura o filme é o trio formado por Joel Courtney, 15, Elle Fanning, 13, e Riley Griffiths, 14, todos muito convincentes. Muito provavelmente, eles vão atrair cada vez mais a luz dos holofotes (o que nem sempre é positivo, quando se trata de atores-mirins).
Para quem foi criança ou adolescente nos anos 80, Super 8 traz uma série de boas lembranças cinematográficas. É uma espécie de cruzamento entre E.T., Goonies e Contatos Imediatos, numa versão mais heavy metal, mas que não chega a ser hardcore, se é que consigo me fazer entender. Não é um filme imperdível, mas, diante da profusão de histórias disconexas que tem tomado os cinemas, até a superficialidade da eterna questão spielberguiana — quem é o verdadeiro monstro, afinal? — parece muito profunda.
Encerro com uma recomendação que já virou praxe quando falo de cinema: não se preocupe em ver em 3D.

quinta-feira, 25 de agosto de 2011

LANTERNA VERDE (Green Lantern) (EUA) (2011)


Hal Jordan (Ryan Reynolds), piloto de testes de uma companhia aeronáutica militar, é escolhido para fazer parte da Tropa dos Lanternas Verdes, uma corporação policial interplanetária. Sua arma é um anel capaz de gerar construtos de energia a partir da imaginação. A situação de Jordan não é das mais fáceis: além de ser o primeiro humano selecionado pela Tropa, é recrutado para assumir o setor do maior Lanterna Verde de todos os tempos, morto em ação, em meio a uma crise que pode destruir a Tropa e o próprio universo. Tudo isso e ele nem ao menos consegue resolver a vida com a namorada.
Esqueça tudo o que você sabe sobre Hal Jordan e a Tropa dos Lanternas Verdes (o tamanho do esforço varia conforme seu conhecimento). Se você é, como eu, um fã de longa data e chato (ênfase no chato), é o único jeito de se divertir com esse filme. Roteiro muito fraco, cheio de furos lógicos, atuações fracas e ritmo apressado demais. A animação de longa-metragem, Lanterna Verde: Primeiro Vôo é mil vezes superior.
Se você não conhece a história de Jordan e da Tropa ou se é menos chato do que eu (admito que isso é muito provável), vai reconhecer que o filme tem seus méritos e pode até vir a ser uma agradável distração. A história do herói que supera as limitações para vencer um desafio muitas vezes superior sempre funciona.
Como era de se esperar, os efeitos visuais são muito bons, especialmente os construtos de energia verde. Também gostei muito da concepção orgânica do uniforme da Tropa. Mas nada que justifique o ingresso mais caro de uma sessão em 3D.
Resumindo, Lanterna Verde é um daqueles casos de “ame ou odeie”. Como fã dos quadrinhos, principalmente da Tropa, muito mais do que do próprio Lanterna Jordan, considero o filme um verdadeiro fracasso, mas consigo entender o que levaria outras pessoas a gostar dele.

quarta-feira, 3 de agosto de 2011

CAPITÃO AMÉRICA: O PRIMEIRO VINGADOR (Captain America: The First Avenger) (EUA) (2011)

☻☻☻

Dotado de grande coragem e profundo senso de justiça, o jovem Steve Rogers (Chris Evans) é recusado pelo exército por ser fisicamente incapaz. Mas são essas características que levam o doutor Erskine (Stanley Tucci) a escolhê-lo para ser cobaia numa experiência científica que pretende criar um exército de supersoldados. Apesar do sucesso da experiência, o Coronel Phillips (Tommy Lee Jones) não acredita que um supersoldado sozinho possa fazer diferença na guerra e os burocratas do governo só conseguem vê-lo como uma figura carismática para a propaganda de guerra. Mas o desaparecimento do amigo Bucky Barnes (Sebastian Stan) e a confiança da agente Peggy Carter (Hayley Altwell) colocam o Capitão América no encalço do terrível Caveira Vermelha (Hugo Weaving), líder de uma poderosa organização que se rebelou contra Hitler e pretende dominar o mundo.
Seguindo o padrão de suas últimas produções, a Marvel fez um bom filme-pipoca: enredo simples, linguagem adolescente, efeitos especiais convincentes e boas atuações, a considerar as possibilidades do roteiro e do elenco. Sem inovações e surpresas, Capitão América prova que mesmo uma história manjada pode ser boa se for bem-contada. Aliás, um de seus pontos positivos é exatamente ser um filme simples e despretensioso.
Sempre achei o Capitão América mais interessante como representação do pensamento político americano do que como personagem de história-em-quadrinhos. Aqui no Brasil, temos a tendência a fazer pouco caso e, muitas vezes, tratar com animosidade o patriotismo norte-americano — situação que costumo atribuir, em grande parte, à nossa própria falta de patriotismo, mas essa é uma outra discussão para um outro momento. Por isso, me surpreendeu a dificuldade que foi conseguir ingressos para a estréia, bem como o tamanho da fila que fomos obrigados a enfrentar para entrar na sessão. Meu maior receio era que o filme se tornasse mais um dos insuportáveis filmes-propaganda que volta e meia os estúdios hollywoodianos despejam sobre o mundo. Felizmente, não é o caso.
É claro que um filme sobre um miltar americano com capacidades sobre-humanas e que enfrenta uma organização terrorista que tenta dominar o mundo não tem como ser isento — e essa tal de isenção nunca existiu, mas também é assunto para outro momento. O fato é que Capitão América tinha todas as condições para ser um dos filmes mais panfletários de todos os tempos, mas todo o tradicional discurso sobre os EUA como a última linha de defesa da democracia ocidental está inserido de um modo que faz sentido dentro de todo o contexto filmográfico sobre o papel estadunidense na II Guerra Mundial. A questão é que o cinema-de-guerra americano nunca é um retrato da guerra em si, mas do mito americano sobre seu papel na guerra.
Resumindo, Capitão América é um filme simples e politicamente correto, que consegue ser divertido por não tentar se levar a sério.
Uma última palavra aos que ainda estão pensando em assistir: não se preocupem em ver em 3D. Não existe nenhuma cena que realmente faça valer a pena o preço mais alto.

sexta-feira, 29 de julho de 2011

SAPERE AVDE XI: DA BELLE ÉPOQUE À GRANDE ILUSÃO

Esse é um dos temas que mais gosto de trabalhar no colegial. É algo que venho pensando já há algum tempo, mas os acontecimentos recentes, particularmente o caso da Noruega, me ajudaram a tornar as coisas um pouco mais sólidas. Esta aula seria o fechamento de um módulo um tanto grande, que vai da Belle Époque à II Guerra Mundial.



Da Belle Époque à Grande Ilusão

© Images.com/Corbis

Um homem, brasileiro, usando terno e sapatos italianos, em pé na plataforma de uma estação construída com técnica e material ingleses, à espera de um trem de fabricação americana, lê um jornal francês que traz as últimas notícias sobre a crise econômica na Grécia, a guerra no norte da África e o terremoto no Japão.
O conhecimento técnico-científico já não avança em passos, mas em saltos cada vez mais largos. O cotidiano doméstico e profissional torna-se profundamente dependente de aparelhos de operação relativamente simples, embora sejam altamente complexos se considerado todo o conhecimento que se precisou acumular ao longo de séculos até sua produção. A informação viaja em velocidade crescente, ligando todos os cantos do planeta em poucos segundos. Compra-se aqui o que é produzido do outro lado do mundo e nossos produtos conquistam consumidores que até ontem mal sabiam onde estamos no mapa. A medicina alcança resultados que antes só podiam ser esperados de um milagre e o número de pessoas que chegam à idade centenária é cada vez maior. Produtos e serviços que nem sonhávamos que pudessem existir tornam-se indispensáveis de uma hora para outra.
Os confortos e facilidades que temos à disposição são tantos que não conseguimos entender como era possível viver antes de tudo isso existir. Mais importante do que isso, as notícias que temos sobre pesquisas e descobertas científicas nos dão a certeza de que todos os problemas da humanidade um dia serão superados. Se gerações anteriores depositavam a fé na magia e na religião, agora é a ciência que nos assombra com seus feitos — incompreensíveis para os menos iluminados, mas que até eles podem fazer funcionar em seu benefício com toda a comodidade — e é ela que responderá a todas as necessidades e, principalmente, anseios da humanidade. A felicidade está ao alcance de qualquer um que seja competente o bastante para conquistá-la.
O preço que pagamos pelo progresso é alto. A expansão da atividade humana não se dá apenas na dimensão do conhecimento. A paisagem é alterada de maneira irreversível para atender às necessidades de ocupação do espaço, geração de energia, produção de alimento e extração de matéria-prima. Os recursos naturais começam a escassear em alguns lugares, dando início a uma complicada corrida em direção a regiões ainda mal-exploradas. Onde a diplomacia não é suficiente, a força serve de argumento. E essa disputa torna-se mais intensa quanto mais aumenta a sede de consumo do mercado, convencido de que a felicidade é um direito e que depende do usufruto de tudo o que é novo, porque ninguém é importante de verdade se seu estilo de vida é ultrapassado. Então, trabalhamos muito — é impossível ter as coisas que nos fazem felizes se não trabalhamos e, depois que as temos, continuamos trabalhando, porque descobrimos que precisamos de outras coisas que até ontem não existiam. (A alternativa costuma ser a infelicidade, mas raramente é uma opção).
Paradoxalmente, a descoberta da diversidade humana e a valorização da multiplicidade de opiniões nos tornam genericamente flexíveis mas individualmente intolerantes. O senso de que somos responsáveis por nossa própria felicidade nos leva a rejeitar tudo aquilo que nos causa repulsa e, em situações extremas, assumir a responsabilidade de destruir o que acreditamos estar errado quando ninguém mais parece ter coragem ou moral suficiente. O mundo se comove diante da grande tragédia que atinge o mundo, o indivíduo não se importa com a miséria que aflige uma pessoa. Falamos sobre o mundo, ignoramos o vizinho. Vigiamos celebridades, deixamos políticos à vontade.
E quando todas essas intolerâncias, indiferenças e futilidades individuais se unem numa enorme massa de intolerância, indiferença e futilidade coletiva, o resultado é uma desastrosa mobilização sócio-política que busca atender aos desejos e não responder às necessidades. E, assim, forma-se a ditadura da maioria, a imposição da vontade de uma massa irracional. Daí à explosão da violência não é necessário grande esforço e as vítimas diretas e indiretas serão contadas aos milhões ao longo de décadas.
Tudo isso poderia ser dito por uma pessoa muito atenta ao mundo de hoje. Deveria ter sido visto por quem viveu na passagem do século XIX para o XX. A grande ilusão de que se construía um mundo próspero e harmonioso desabou quando se descobriu que a mesma ciência que podia salvar a humanidade também podia destruí-la. Os construtores do admirável mundo novo falharam em entender que a simples associação entre desenvolvimento técnico-científico e aplicação de uma rígida disciplina de controle estatal não é suficiente para efetivamente trazer ordem e progresso, ao menos não para toda a humanidade, ao contrário do que afirmava o positivismo. O espírito da Belle Époque não foi capaz de evitar as duas Guerras Mundiais — muito pelo contrário, foi responsável por elas em grande parte. O progresso humano só pode existir de fato se o desenvolvimento técnico-científico for acompanhado pela eliminação das injustiças sócio-econômicas, pelo equilíbrio ecológico, pela disseminação de uma educação humanista — único caminho para evitar que os intolerantes abusem da tolerância — e, ouso dizer, pela elevação espiritual — seja ela resultado de reflexão filosófica ou convicção religiosa.

terça-feira, 26 de julho de 2011

STATUS II

© ImageZoo/Corbis

De volta ao trabalho. Ainda preciso descansar, mas fazer o quê?

segunda-feira, 18 de julho de 2011

FUTEBOLÍSTICAS X: O VENTO DIVINO

Azusa Iwashimizu

Já se passaram algumas horas, mas ainda estou tentando processar o que foi esse domingo de futebol. Não se trata da eliminação do Brasil diante do Paraguai. Reconheço que é um tanto chocante ver uma seleção principal do Brasil, por mais que eu discorde de um ou outro convocado, chutar quatro tiros da marca penal e não converter nenhum, mas quem me conhece sabe que nunca dou muita importância para a seleção, mesmo sendo um apaixonado por futebol. Estou falando da seleção japonesa de futebol feminino, campeã mundial na Alemanha.
Não vou gastar tempo descrevendo o jogo, porque isso você pode ler em qualquer site por aí. Também não vou falar sobre a importância do planejamento de longo prazo, que a seleção japonesa feminina vem se destacando nas categorias de base e que o Brasil tem muito a aprender, porque quem precisa ouvir isso não se importa com o futebol (seja masculino ou feminino), só com o (nosso) dinheiro. Quero pensar no espírito japonês e numa jogadora em especial.
Depois do jogo de hoje, a imprensa esportiva já está colocando em destaque a participação fundamental da capitã Homare Sawa, artilheira, melhor jogadora do torneio e autora do gol de empate no segundo tempo da prorrogação; ou da meio-campista Aya Miyama, autora do gol que tornou a prorrogação possível; ou da goleira Ayumi Kaihori, que assegurou o empate e defendeu duas cobranças de pênalti. Eu quero falar de Azusa Iwashimizu, zagueira, expulsa no final do segundo tempo da prorrogação.
Aqui no ocidente (e em qualquer lugar fora do Japão), kamikaze é o piloto suicida, o guerreiro que está disposto a se sacrificar como arma para abater o inimigo. Em português, a palavra pode ser traduzida pela expressão “vento divino”. Fazendo um resumo muito meia-boca, a lenda diz que, na hora do seu maior perigo, quando tudo o que o Japão puder fazer é esperar para morrer, virá o vento divino (um tufão) para arrasar o inimigo (piratas chineses ao longo da história ou a frota russa em 1904). No final da II Guerra Mundial, os pilotos japoneses foram convocados para serem parte desse vento divino que livraria o Japão. O final da história vocês sabem — e livros de história estão aí para quem não sabe. A figura do kamikaze se torna possível no Japão por causa do espírito do guerreiro japonês. A honra só existe para o vitorioso ou para o morto. A maior parte dos ocidentais definiria isso como fanatismo e provavelmente é verdade. O fato é que o verdadeiro japonês entende a necessidade de se sacrificar pelo bem maior de seu povo. Não é só uma questão de coragem. É uma questão de propósito.
Sem contar os acréscimos, faltava pouco menos de um minuto para terminar a prorrogação. O jogo estava empatado em 2x2 e o Japão tinha lutado muito para conseguir aqueles dois gols. De repente, um lançamento e a atacante americana Abby Wambach, uma das mais experientes e competentes de uma equipe que já é acima da média, disparou por trás da zaga para receber, na entrada da área, uma bola lançada com perfeição. Se dominasse aquela bola, estaria livre, de frente para o gol. O jogo e o título seriam definidos ali. E eu, já lamentando pelas japonesas, de repente vejo uma zagueira japonesa deslizando no chão, num carrinho certeiro! Wambach no chão! Não foi uma falta para machucar a adversária. Mas era uma jogada em que havia clara possibilidade de gol e foi impedida por uma falta proposital.
Iwashimizu não reclamou do cartão vermelho. Suas companheiras também não. Limitaram-se a abraçá-la e agradecê-la. Ao menos agora elas teriam uma chance de evitar o gol americano.
Não sei se ela pensou nisso na hora. Não sei se alguém mais pensou nisso. Também não sei se Wambach teria feito o gol. Só sei que o Japão venceu esse jogo nos pênaltis e que isso possivelmente só aconteceu porque ela, sem nenhum outro recurso à mão (ou ao pé, já que é futebol), se atirou para impedir o avanço da americana. O que Iwashimizu fez não foi só impedir que seu time levasse o gol fatal. Ela deu às companheiras a injeção de ânimo que elas precisariam para continuar até o fim. E é por isso que é dela a imagem que abre este post.
O que é o vento diante de uma armada inteira? Pode ser a vitória.
© Getty Images/FIFA

quarta-feira, 6 de julho de 2011

ALEATEORIAS XL


Resolvi mudar a fonte do blog. Tenho uma certa fixação pelo estilo Comic Sans MS. Deve ser porque, de certo modo, lembra um pouco letra de mão. Nada contra a tradicionalíssima Times New Roman — muito pelo contrário, acho que é uma das mais confortáveis para leitura —, mas a vantagem é que agora o blog fica com um aspecto menos formal. (E agora me lembro que, quando passei a usar TNR, a idéia era exatamente dar uma cara mais séria. Reconheço que sou um blogueiro inconstante).
Os alunos não aparecem mais na escola, as notas já foram fechadas e amanhã começa a série insuportavelmente chata de reuniões de conselho de classe. Na prática, é só para ficarmos sabendo que fulaninho ou fulaninha não é ruim só com esse ou aquele professor. Raramente se discute e decide algo realmente útil. Do modo como é feito, a simples impressão de relatórios resolveria esse problema. É impressionante que, em pleno século XXI, nossa produtividade ainda seja medida pela quantidade de horas em que ficamos confinados numa sala ou de formulários que preenchemos manualmente. Alguma burocracia é sempre necessária, mas, na maior parte do tempo, ela é apenas um desperdício de tempo, papel e paciência.
Reconheço, porém, que grande parte do meu problema com a burocracia escolar se deve justamente ao fato de eu estar sempre atrasado com ela. Por exemplo, meus diários-de-classe só são chamados de diários por uma questão de uso consagrado do termo. Se considerar o tempo que dedico ao preenchimento deles, o nome mais adequado provavelmente seria bimestrário ou até semestrário. A verdade é que vejo pouquíssima, quase nenhuma utilidade naqueles papéis, até porque o papel aceita qualquer coisa, ou seja, não interessa a verdade; interessa o que está no papel.
Mudando de assunto, tenho curtido bastante esses dias frios. É verdade que não é exatamente divertido sentir os dedos endurecendo e a sensação que o vento gelado no cabelo molhado provoca de manhã, quando estou a caminho do metrô, está longe de ser confortável. Mas eu realmente gosto desses dias em que até eu sinto frio. Deve ser porque é um dos poucos momentos em que experimento a mesma sensação que as pessoas à minha volta. Essa mesma lógica não se aplica ao verão, afinal, sofro muito mais do que a maioria e, para todos terem a mesma sensação desagradável que experimento, o calor teria que ser absurdamente grande, o que obviamente não é do meu interesse.
Hoje é mais um dia frio. Menos do que ontem e bem menos do que segunda-feira, mas ainda é um dia em que até eu estou agasalhado. Dia bom para comer feijoada. Aliás, é quarta-feira. Talvez deixar a lasanha congelada para depois e ir até o boteco mais próximo para matar uma feijoada seja uma boa idéia. (A quem estou tentando enganar?! É uma ÓTIMA idéia! Saindo em busca de uma feijoada. Até mais!).

quarta-feira, 22 de junho de 2011

FORMSPRING II

If you were in a rock band what would you name it?

R: O Professor Louco e seus Alunos Aloprados.

sábado, 18 de junho de 2011

STATUS

© Illustration Works/Corbis

Ou preciso de mais tempo, ou de mais disciplina, ou de mais braços. Provavelmente as três coisas.

quarta-feira, 15 de junho de 2011

FLASH XV


  Estava com um post quase pronto. Aí, o note apagou do nada e o texto sumiu. Não estou a fim de escrever de novo. Então, deixa pra lá.

quinta-feira, 9 de junho de 2011

ALEATEORIAS XXXIX


Deu vontade de escrever. Só não sei sobre o quê. Certamente é o jeito que minha cabeça arranjou para me afastar do trabalho com a papelada. Aliás, já estou atrasado com isso. Outra vez. Não sei se algum dia vou conseguir fazer as coisas na hora certa. A verdade é que boa parte desse trabalho me parece absolutamente inútil. Ossos do ofício.
Tenho sentido muito sono ultimamente. Além disso, as dores nas costas têm se tornado mais freqüentes e incômodas. Sinais claros de que estou de novo chegando perto do limite. Por enquanto, a cabeça tem funcionado bem (ou pelo menos funcionado de acordo com o meu padrão, já que talvez isso não possa ser definido como “funcionar bem” — às vezes até tenho dúvidas quanto à idéia de “funcionar” ser aplicável à minha cabeça), mas estou tentando não exagerar. A última crise não foi nada agradável e não quero repetir a dose.
Mudando de assunto, o inverno resolveu aparecer mais cedo este ano. Geralmente passo o outono sem grandes preocupações com a temperatura, mas já são duas semanas em que saio de casa agasalhado todos os dias. Ao longo do dia, até me livro do excesso de roupas, mas o frio tem sido realmente forte. Até para mim. Ao contrário do que acontece com a maioria das pessoas, porém, isso não é motivo de reclamação para mim. Estou realmente curtindo esses dias mais frios.
Hoje depois do almoço fui dar uma volta pelo Centro em busca de alguma lembrancinha para a Anna, afinal, domingo é Dia dos Namorados. Na verdade, o presente mesmo já foi comprado, mas ainda não chegou. Pelo que vi no site, algum problema na liberação do pagamento fez com que o pedido fosse registrado depois do que eu realmente planejava e, por isso, o presente só vai ser entregue depois. Então, para não deixar o dia passar em branco, comprei algo mais simples, mas bonitinho. Sorte a dela que vai ganhar dois presentes. Mas ela merece.
Último assunto do dia, pelo menos por enquanto, hoje acordei com a sensação de que era sexta-feira. Deve ser a vontade de descansar no fim-de-semana. Ou talvez a cabeça esteja começando a falhar. Foi difícil e até um tanto frustrante recalibrar as idéias para me lembrar de que sexta-feira é só amanhã. Pelo lado positivo, passei boa parte do dia mais tranqüilo, imaginando que amanhã seria um dia de descanso. Então, de certo modo terei duas sextas-feiras na semana. Só espero não ter gasto energia demais hoje.

sábado, 4 de junho de 2011

X-MEN: PRIMEIRA CLASSE (X-Men: First Class) (EUA) (2011)

☻☻☻e ½


No auge da Guerra Fria, mutantes malignos liderados por Sebastian Shaw (Kevin Bacon) tentam desencadear uma guerra nuclear para acabar com a humanidade. Cabe ao geneticista e mutante Charles Xavier (James McAvoy) e à agente da CIA Moira MacTaggert (Rose Byrne) reunir uma equipe de jovens mutantes para impedir que a Crise dos Mísseis se transforme em guerra. A eles se une Erik Lehnsherr (Michael Fassbender), sobrevivente dos campos de extermínio nazistas e também mutante, que quer se vingar dos carrascos de seu povo e impedir que o holocausto se repita com os mutantes.
Esqueça as cronologias das HQs (embora essa recomendação pareça bastante óbvia, sempre há aqueles fãs desavisados que esperam ver a transposição simples e direta das histórias dos quadrinhos para a tela) e da própria franquia (o razoável X-Men, o bom X-Men 2, o fraquíssimo X-Men: O Confronto Final e o pavoroso X-Men Origens: Wolverine). XM1C até tenta ser parte dessa seqüência de filmes, mas o número de inconsistências do roteiro em relação à série deixa claro que a intenção é realmente recomeçar. E, se for entendido dessa forma, o filme é muito bom.
O roteiro tem bom equilíbrio entre as cenas de construção das personagens mais importantes, ação e risadas (as cenas descaradamente cômicas são fracas, na verdade, mas as sutis são muito boas). Existe, é claro, um bom número de referências aos quadrinhos, mas a história pode ser facilmente acompanhada por quem só conheceu os X-Men no cinema ou está vendo um filme com os mutantes da Marvel pela primeira vez. Os fãs mais antigos e menos intransigentes da HQ vão perceber que, embora haja um grande número de mudanças em relação ao que se lê no papel, a construção das personagens respeita o que foi estabelecido principalmente a partir dos anos 80.
Os efeitos especiais, curiosamente, não chamam a atenção. Ainda não sei se isso é uma falha de concepção e execução ou se o propósito era concentrar o foco da platéia no ritmo da história. De qualquer modo, fiquei feliz em finalmente encontrar uma explicação razoável para Banshee conseguir voar.
É claro que XM1C tem defeitos. O maior deles é um Xavier moleque demais. Magnus, ao contrário, é muito consistente. E um mutante que lança discos de energia rebolando como se estivesse brincando com bambolê é absolutamente ridículo! (No sentido original da palavra, ou seja, faz rir). Emma Frost (January Jones) também merecia uma caracterização melhor e uma atriz que não tivesse cara de adolescente, afinal, ela é a Rainha Branca do Clube do Inferno! (Ou foi, pelo menos nos quadrinhos, porque agora está com os mocinhos).
Seja como for, XM1C conseguiu agradar um bom número de fãs extremamente chatos como eu (embora tenha desagradado muita gente também). Então, dá para dizer que vai agradar boa parte do público.

segunda-feira, 30 de maio de 2011

DE VOLTA DO INFERNO

© Images.Com/Corbis


Vamos tentar de novo.
Começo desse jeito porque já estava com um post pronto para ser publicado e, graças à falta de coordenação motora que me é característica, a um toque involuntário no touchpad do note que, logo quando não deve, resolve ser super-sensível, e ao sistema de auto-salvamento de texto do Blogger, tudo foi apagado e precisarei começar do nada porque nem o rascunho escapou. A vantagem é que agora as idéias estão prontas e talvez o texto saia um pouco melhor.
Já faz tempo que não passo por aqui. Os motivos são os de sempre: correria com o trabalho, falta de idéias, cansaço… Mas acho que o principal motivo é que agora estou em paz. O início do ano foi marcado por uma profusão de posts em grande parte por conta do turbilhão emocional que passou por aqui. Me parece que sou daqueles que não sabe lidar direito com os próprios problemas e, portanto, acha razoável descarregá-los nas costas do mundo inteiro, ou seja, sou melodramático. Em minha defesa, posso dizer que pessoas em situação de crise tendem a reagir de maneira diametralmente oposta ao seu padrão de comportamento. No meu caso, isso significa perder quase totalmente o controle sobre as emoções.
Tudo isso para introduzir o assunto que meus contatos no Twitter e no Facebook já sabem há alguns dias (fora os que tiveram a chance de confirmar pessoalmente): Anna e eu estamos de volta!
Depois de três meses e alguns dias separados, muito choro dos dois lados, muita conversa em que dissemos tudo aquilo que deveria ter sido dito enquanto estávamos juntos e muita insistência (essa parte foi só minha), resolvemos que precisamos tentar mais uma vez.
“Depois daquele salseiro todo, só agora ele vem dizer que voltaram?!” Imagino que isso passe pela cabeça de todos aqui e faz muito sentido. Mas explico: o blog existe para que eu possa descarregar aquelas idéias que, por algum motivo, preciso materializar de algum jeito que não consigo fazer em apenas 140 caracteres. O fato é que, em condições normais, não sinto necessidade de compartilhar tudo o que se passa na minha cabeça ou no coração. Isso só acontece na hora em que estou emocionalmente sobrecarregado.
Ter uma nova chance com a Anna realmente acalmou meu coração. Ainda existem coisas que precisam ser ajustadas, conversas que precisam ser feitas e, principalmente, erros que precisam ser evitados. Mas estamos bem. Depois de três meses no inferno, sinto-me vivo outra vez.
Agora que meu espírito está em paz, é certo que o blog vai passar mais tempo parado. Mas eu realmente preciso agradecer a todos os que me sustentaram todo esse tempo. Eu não teria sobrevivido sozinho. Por mais que minha reação fosse exagerada (tenho certeza que foi) e que eu mesmo soubesse que o mundo não ia acabar, era assim que eu me sentia e eu realmente não conseguia controlar meu coração e, da mesma maneira que nunca espero que meus amigos sejam fortes quando estão fracos, sei que tenho amigos que estão prontos para tornar minha queda menos desastrosa quando não tenho mais forças para continuar em pé. Perder a Anna foi como se de repente o piso do prédio desaparecesse e eu despencasse do vigésimo andar (quem conhece meu pavor de altura entende o que quero dizer com essa metáfora). Vocês impediram que eu me esborrachasse no chão.

sábado, 23 de abril de 2011

FORMSPRING

E agora, a pergunta que não quer calar: O que viria a ser “UM BLOGUEIRO DE VERDADE” (sic) ?

R: Um blogueiro de verdade cuida do blog, mantém atualizações regulares, responde comentários (a não ser quando são muito numerosos ou não cabe resposta), coisas desse tipo.

quarta-feira, 13 de abril de 2011

APESAR DE TUDO, É ANIVERSÁRIO!

© Images.com/Corbis

Faz pouco tempo que estou neste endereço, mas sempre pensei o Aleateorias 2 como uma simples continuação do primeiro Aleateorias. Por isso, mantive a contagem das colunas do blog e do tempo. Então, hoje é aniversário do blog e isso merece alguma comemoração.
Eu realmente gostaria de ter algo bonito para dizer, além dos tradicionais agradecimentos aos leitores fiéis — muito mais fiéis ao blog do que o próprio blogueiro, diga-se de passagem. A verdade, porém, é que a correria da vida e o cansaço que ela produz só me permitiram lembrar do aniversário, mas não pensar numa maneira de comemorá-lo. Em minha defesa, posso dizer que o simples fato de não deixar a data passar em branco já é um grande avanço.
Para não ficar no lugar comum, não vou me alongar. Resolvi que só vou escrever no blog quando achar que tenho algo que mereça ser escrito. E essa regra vale até mesmo para o aniversário. Felizmente, o blog não é uma pessoa. Imagino que ele se sentiria muito mal de passar o aniversário tão sozinho.

sábado, 2 de abril de 2011

ZAPPING XXXVIII


© Comstock

Acho que a primeira notícia importante do dia é que ontem à noite fui vítima do cada vez mais raro crime de furto por habilidade, aquele em que você tem seus bens subtraídos sem qualquer outro dano e sem que você perceba. No meio da confusão do metrô, no final da hora do rush, alguém conseguiu abrir minha mochila e tirar a carteira. O prejuízo não foi grande coisa. O trabalho de fazer BO, cancelar cartões e tirar 2.ª via da CNH vai ser bem pior. Claro que na hora bate um pouco de indignação, tristeza, mas logo me senti em paz. No meio de tanta coisa ruim que acontece com tanta gente, meu caso foi simples, inofensivo. Nem mesmo a mochila foi danificada. Senti a mão de Deus cuidando de mim.
A parte chata de ter sido furtado ontem foi que isso aconteceu quando eu estava a caminho de um restaurante legal, onde só vou de vez em quando por causa do preço, para aproveitar a oferta da Restaurant Week com um grupo de amigos. Eu agitei, combinei tudo e, na hora, fiquei sem jantar. Depois de fazer o BO, ainda passei no restaurante só para ver o pessoal. Eles até se ofereceram para pagar meu jantar, mas já era tarde da noite e, por isso, achei que seria mais sensato e honesto voltar para casa e tentar enganar a fome com qualquer coisa que encontrasse na cozinha: uma pêra e duas fatias de pão.
A semana que se encerra hoje não foi boa. Doente na segunda, trabalhando com dores de terça até quinta, carteira roubada e jantar perdido ontem. Hoje, teoricamente, preciso começar a corrigir trabalhos e montar apostilas. Vontade zero.
Para os que só recentemente começaram a acompanhar este blog, explico que não estou louco. A coluna Zapping está mesmo em sua 38.ª edição. Migrei para o Blogger no começo do ano, mas mantive a contagem do blog original, que você pode conferir aqui.

segunda-feira, 28 de março de 2011

FUTEBOLÍSTICAS IX: QUANDO 100 VALEM 1000


Quis o destino que eu não estivesse diante da TV ou mesmo com os ouvidos ligados no rádio para acompanhar um dos momentos históricos do futebol, não só brasileiro, mas mundial. Não é sempre que um goleiro faz gol. Não é sempre que um goleiro faz 100 gols, ou 98, como insistem corintianos e a Fifa. Se eles não aceitam isso, azar deles, porque não há demérito nenhum em reconhecer os méritos de Rogério Ceni, da mesma forma que é azar da seleção brasileira e da Copa do Mundo se nenhum desses 100 gols foi marcado pela seleção numa Copa. Há quem diga que um goleiro fazer 100 gols é o mesmo que um atacante fazer 1000. Eu concordo, ainda mais porque a marca de 1000 gols para um atacante é algo muito difícil de se atingir.
Rogério Ceni pode não ser o melhor jogador a vestir a camisa do São Paulo, mas certamente é o mais importante da história do clube. Embaixo das traves, até existe um ou outro goleiro melhor, mas poucos são tão bons quanto ele. Com a bola parada, seja numa cobrança de falta ou de pênalti, poucos são tão competentes. Entre os goleiros, nenhum. Entre outros ídolos da história do clube, talvez tenha até poucos títulos se considerarmos o número de conquistas e o tempo em que está no clube. Mas, numa época em que jovens precocemente lançados ao estrelato se despedem de seus clubes antes que possam se transformar em ídolos de suas torcidas, ver um goleiro da envergadura de Rogério Ceni comemorar o centésimo gol de uma carreira praticamente toda dedicada ao mesmo time é algo emocionante, mesmo para quem não é um torcedor. A não ser, é claro, para os corintianos. Por enquanto.
Ceni é sempre apontado pela crítica como exemplo a ser seguido, não só no mundo do futebol, mas de toda a dedicação e seriedade que se espera do profissional de qualquer setor. Mais articulado e culto do que a média dos nossos jogadores, líder dentro e fora das quatro linhas, seu grande defeito provavelmente é exigir demais de si mesmo e de seus companheiros. Sempre foi um das figuras que mais respeitei no mundo do esporte. E mais ainda agora que, ao escolher a trilha sonora para seu grande momento, simplesmente pediu ACDC. É a primeira vez que vejo um jogador não pedir pagodes, funks e rebolations da vida. (Ainda há esperança!!!)
Se o São Paulo colocar uma placa em homenagem a ele no Morumbi, será uma injustiça. Diante de tudo o que representa para a história do clube, Rogério Ceni merece uma estátua.

segunda-feira, 7 de março de 2011

Ô, ABRE ALAS QUE EU QUERO PASSAR!

© Images.com/Corbis

A única maneira de alguém me ver participando de qualquer evento carnavalesco seria se minha cama criasse pernas e me levasse aos desfiles, aos blocos ou aos bailes. Como historiador, acho o Carnaval uma festa fascinante, mas, na qualidade de cidadão comum (se é que essa definição pode ser aplicada a mim), considero uma chatice essa coisa de desfile, escola de samba, folia e tudo o mais. A única coisa que ainda acho interessante — e apenas como espectador — são os blocos tradicionais. A única vez em que acompanhei algo mais de perto foi quando Anna tentou fotografar o Bloco dos Esfarrapados, o mais antigo de São Paulo, e essa tentativa durou só alguns quarteirões porque o som alto e todas aquelas pessoas gritando do meu lado me deram uma dor-de-cabeça muito forte e que me impossibilitou de seguir o cortejo.
Passei a maior parte dos meus carnavais em eventos da igreja. Já que é o feriado mais longo que temos no ano, é comum aproveitarmos a data para reunir pessoas de vários lugares para confraternização, reflexão e renovação do compromisso. Meus últimos carnavais, contudo, foram dedicados a não fazer nada, embora até tivesse o que fazer. Agora, por exemplo, estou fugindo de um bocado de coisas que precisam ser feitas, mas que estou absolutamente sem vontade de fazer. (Não é uma atitude muito inteligente, já que vou ter que correr para tirar o atraso nos próximos dias, mas não consigo evitar).
Ainda estou tentando me recuperar dos acontecimentos dos últimos meses, fora a correria do trabalho. Só se passaram quatro semanas de aula, mas eu já me sentia cansado como se estivesse trabalhando há meses. Eu realmente preciso descansar. Vamos ver como as coisas vão correr ao longo do ano.

segunda-feira, 14 de fevereiro de 2011

FUTEBOLÍSTICAS VIII: UM HOMEM CHAMADO FENÔMENO


© Markus Ulmer/dpa/Corbis

Ele certamente cometeu erros na vida, decepcionou pessoas, não soube avaliar corretamente algumas situações. Ele é humano. Mas é um ser humano fenomenal. Foi sua formidável habilidade como jogador de futebol que lhe rendeu o apelido de Fenômeno. Pra mim, fenomenal é sua capacidade de transformar adversidade em combustível para a força de vontade.
Sua última falha foi não ter percebido que já tinha chegado o tempo de pendurar as chuteiras e se dedicar a novos desafios fora das quatro linhas. Seu último acerto, por enquanto, foi ter acreditado que era possível vencer mais uma batalha contra a desconfiança e as críticas. Ainda que tenha perdido.
Quando procurei uma imagem para ilustrar este post, pensei nas várias fotos que foram feitas hoje, de seus olhos lacrimejantes no momento em que anunciava a aposentadoria como jogador. Mas não é assim que vou me lembrar dele. Nem o mundo. Para mim e para o mundo, a imagem que vai ficar é a do vencedor, nem tanto nos campos quanto na vida.

segunda-feira, 7 de fevereiro de 2011

ALEATEORIAS XXXVIII


Minha rotina foi atingida por dois falecimentos nesse fim-de-semana. Sábado à noite, Anna me ligou avisando que o cozinheiro de um restaurante que costumávamos freqüentar morreu na virada do ano e, desde então, o restaurante está fechado. Ontem de manhã, foi a vez de meu pai me ligar para avisar que meu avô morreu, depois de passar a semana quase inteira internado. Sem medo de parecer desnaturado, devo admitir que fiquei mais triste pelo cozinheiro do que pelo meu avô.
A verdade é que meus vínculos emocionais com meu avô foram rompidos há uns 15 anos, desde que tivemos que recebê-lo em casa após um AVC, do qual ele nunca se recuperou totalmente. Nunca consegui aceitar o modo como ele tratou meus pais, como se fossem escravos que deveriam se curvar diante de cada uma de suas exigências absurdas e não membros da família que estavam tentando fazer o seu melhor, inclusive sacrificando as economias da família, para que ele tivesse um pouco mais de conforto. Nesse ponto, meus pais são mais controlados. Quem realmente brigou com meu avô fui eu. Alguém tinha que dizer o que todos estavam pensando e sentindo. Desde então, só o encontrei uma vez ou outra e nunca passei de um cumprimento educado.
Mudando de assunto, amanhã a correria começa de verdade. Na semana passada, já voltei às aulas na FTML e foram definidas as minhas turmas no colégio. Amanhã, reunião de planejamento (esse é o nome oficial, porque de planejamento mesmo ela não tem praticamente nada e é até um momento bastante inútil, a bem da verdade). Ainda estou pensando no programa de História deste ano. Começamos a rascunhar alguma coisa no ano passado, mas ainda preciso fazer os últimos ajustes antes de apresentar aos colegas o programa para este ano e os dois próximos. Também não consegui adiantar a preparação das aulas das primeiras semanas como eu queria. Vou ter que correr um pouco mais com isso agora.
A cabeça está voltando a assumir o comando aos poucos. O coração ainda sente saudades e tristeza, mas a proximidade da correria que o trabalho exige parece já ter algum efeito aqui. As sessões de massagem e acupuntura também têm ajudado. No final das contas, sei que vou sobreviver, mas ainda sinto falta do alívio emocional que a presença da Anna trazia à minha vida. Enquanto estou ocupado ou em companhia dos amigos, até que tenho me virado bem, mas ainda não lido muito bem com os momentos em que estou só.
Anna me acompanhou no funeral do meu avô em solidariedade à minha mãe (elas gostam muito uma da outra e tenho a impressão de que minha mãe vai continuar tratando a Anna como a nora). Antes disso, jantamos juntos na sexta e no sábado (a do sábado não estava no programa). Reencontrá-la foi menos difícil do que eu imaginava, mas a vontade de segurar a mão dela, de dar um abraço e um beijo foi muito grande. Acho que vamos mesmo conseguir manter a amizade, embora eu queira muito mais do que isso. Também foi um bom momento para conversar algumas coisas que ainda precisavam ser ditas. Tenho a impressão de que voltamos a nos comunicar de uma maneira que não vínhamos fazendo nos últimos dois anos. Pena que seja tarde demais.


Mais da coluna “Aleateorias” no antigo Aleateorias.

Conheça, também, o primeiro Aleateorias.