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sábado, 29 de janeiro de 2011

O SUICÍDIO NOSSO DE CADA DIA

© John W. Karapelou, CMI/MedNet/Corbis

Hoje de manhã (sim, por incrível que pareça, acordei antes do meio-dia num sábado) liguei o rádio a tempo de escutar um rápido debate acerca da legalização da maconha. Os argumentos favoráveis e contrários são fortes o suficiente para me manter em cima do muro. (Isso acontece até quando os argumentos são fracos, pensando bem — sou muito pós-moderno, reconheço). Imagino que algo semelhante deve ter acontecido quando se optou pela restrição ao tabaco e ao álcool e pela proibição da cocaína, que já foi um remédio comum contra dor-de-cabeça. Mas não é exatamente sobre legalizar ou não essa ou aquela droga que quero falar hoje. É sobre um conjunto muito maior de vícios e comportamentos que, se pensarmos bem, nada mais são do que um suicídio em pequenas doses.
Há algum tempo, as notícias sobre violência cruel e gratuita se tornaram mais freqüentes na mídia, o que leva muita gente a pensar que o ser humano está se tornando pior (golpe duro para os que ainda cultivam aquela mentalidade romântica do século XIX). Também se tornaram muito mais comuns aqueles gestos menores (mas profundamente irritantes) de falta de civilidade. Hoje, as pessoas agridem, destroem e matam por qualquer pretexto, por mais fútil que seja. Às vezes fazem isso até sem pretexto nenhum.
Em geral, a explicação que damos a nós mesmos é a de que essas pessoas têm uma percepção tão distorcida do mundo e de si mesmas que se colocam acima de toda a sociedade. Se suas auto-definidas necessidades são atendidas, pouco importa o que o resto do mundo pense, diga ou faça. O clássico problema da auto-estima viciosamente exacerbada, ou seja, as pessoas são mimadas demais. Acredito, porém, que a resposta não seja exatamente essa.
Para mim, a raiz do problema não é a valorização excessiva do ego, mas a ausência de um sentido para a vida individual e coletiva. O argumento fundamental contra qualquer comportamento vicioso é o de que a vida — considerada, aqui, como o conjunto das funções biológicas, intelectuais e sociais — é o bem mais precioso que existe e, portanto, deve ser preservada por todos. Mas qual é o propósito de preservar uma vida sem propósito?
Que cigarro e drogas fazem mal, ninguém discute. Também são poucos os que aprovam o uso gratuito da violência ou a prática da direção perigosa. Álcool já não é unanimidade, mas pessoas de bom senso concordam que o excesso faz mal, assim como sexo sem proteção. E, ainda assim, milhões de pessoas optam por isso todos os dias, muitas vezes de maneira consciente. Mas o conjunto de vícios aparentemente inocentes é muito maior. Os alimentares são os mais comuns, assim como a auto-medicação ou o simples ato de atravessar uma avenida movimentada fora da faixa. Tudo isso coloca nossa vida em risco. E, se as pessoas forem mesmo tão incapazes de evitar um comportamento auto-destrutivo quanto parecem ser, a conseqüência mais naturalmente nefasta é que também não se esforcem muito para preservar a vida dos outros.
Minha teoria é simples: a maioria das pessoas é incapaz de atribuir, de maneira consciente, um propósito à própria vida. Assim, fazem isso de maneira inconsciente e, portanto, irracional. Como conseqüência, vemos uma humanidade preocupada em satisfazer seus desejos e necessidades momentâneos (muito mais desejos do que necessidades, a bem da verdade) que, tão logo sejam atendidos ou até antes disso, logo são substituídos por outros desejos e necessidades. E me parece que a solução para tudo isso se encontra em algum comportamento auto-destrutivo, por mais inocente que pareça.
Eu também não escapo disso. Ontem finalmente percebi que havia dias que não tomava os remédios para controlar a pressão. Também estou adiando há semanas a marcação de consultas médicas e a alimentação, que já era um tanto irregular mesmo quando eu tentava seguir as recomendações médicas, agora está totalmente descontrolada. E a verdade é que não vejo nenhum sentido em cuidar disso agora. Não deveria ser assim, sei disso, mas sinto que perdi boa parte do propósito da vida quando Anna foi embora.
No final das contas, o que eu e o resto da humanidade precisamos é a mesma coisa: reencontrar o sentido da vida, uma direção que aponte não mais para o que podemos ser, ter ou fazer agora, mas para nosso verdadeiro lugar no universo. Nosso papel pode não ser tão grande quanto a maioria de nós gostaria, mas certamente é muito mais importante do que o que temos vivido até hoje e muito maior do que nossos sonhos mais profundos.
“Não se amoldem ao padrão deste mundo, mas transformem-se pela renovação da sua mente, para que sejam capazes de experimentar e comprovar a boa, agradável e perfeita vontade de Deus.” Romanos 12.2 (NVI)

2 comentários:

Sandra disse...

O sentido da sua vida não está no outro... Está em você! Quando estiver completo, aí sua vida fará sentido. Espero que perceba isso o mais rápido possível, pra não perder o presente que Deus lhe deu: VIVER! Força e fé! Sandra (Totoca) :)

Makoto® disse...

Ninguém é completo em si mesmo. Por isso passamos a vida toda procurando aquelas pessoas que ajudam a dar sentido ao que somos, temos e fazemos.

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