O autor deste blog NÃO reconhece o novo acordo ortográfico e usa sua própria ortografia baseada em critérios lógicos.

Conheça, também, o primeiro Aleateorias.

segunda-feira, 29 de agosto de 2011

FUTEBOLÍSTICAS XI: FUTEBOL NÃO É UMA LÍNGUA UNIVERSAL


Se o futebol é, como dizem, uma língua universal, existe, no mínimo, um grande regionalismo em torno da palavra “vergonha”. Suspeito até que ela seja desconhecida por aqui, uma daquelas palavras que não podem ser traduzidas para o português.
Envergonhados pela derrota por 8 x 2 diante do Manchester United, os diretores do Arsenal anunciaram que os torcedores que foram até Manchester receberão, gratuitamente, ingressos para outro jogo do Arsenal ainda a ser marcado. É a terceira vez que vejo notícia parecida, com ingressos gratuitos ou devolução do dinheiro após derrotas vexatórias.
Lembro, também, de um jogo na Holanda, em que um jogador chutou a bola para o goleiro do outro time em retribuição ao fato de que a bola tinha sido colocada para fora para que seu colega fosse atendido. A bola entrou no gol e, para compensar, o time que acidentalmente obteve vantagem no placar simplesmente abriu caminho para que o jogo voltasse a ficar empatado. E, para evitar qualquer problema de favorecimento em sites de apostas, o goleiro que levou o gol inusitado foi o escolhido para levar a bola até o gol adversário e empatar o jogo.
Situação semelhante ocorreu em jogo na Inglaterra, quando um gol relâmpago marcou o início de uma partida que foi imediatamente suspensa por falta de condições de jogo — não lembro se era chuva ou outra coisa do gênero. Como o jogo não tinha rolado pelo tempo mínimo necessário para ser considerado válido ou interrompido, uma nova data foi marcada e o jogo começaria do zero. Antes do apito inicial, os jogadores do time que tinha marcado o gol no jogo cancelado foram avisados pelos adversários que poderiam simplesmente levar a bola até o gol para que o jogo recomeçasse com o mesmo placar do anterior. O expediente de usar o goleiro também foi aplicado nesse caso.
Há poucas metáforas que explicam o Brasil tão bem quanto o futebol. O sociólogo Gabriel Cohn bem disse que “o sociólogo no Brasil que não tiver os fundilhos das calças puídas pelas arquibancadas não entenderá este país”. O conceito de vergonha está intimamente ligado ao conceito de honra. Duas coisas que praticamente ignoramos por aqui, quando o assunto é futebol.
É fato que a Europa não é o céu e nem o Brasil é o inferno, mas não deixa de ser frustrante ver que, enquanto lá fora pelo menos alguns dirigentes e jogadores se preocupam em preservar o espírito esportivo, aqui aplaudimos dirigentes clubísticos e políticos que defendem a aplicação sem transparência de recursos públicos em estádios de futebol para uma Copa do Mundo que o povo brasileiro só acompanhará pela TV. E denunciar isso é antipatriótico, é ser sabotador, é torcer contra o país. Se o patriotismo é o refúgio dos canalhas, o futebol é o prato em que eles comem.

domingo, 28 de agosto de 2011

SUPER 8 (Super 8) (EUA) (2011)

☻ ☻

Condado de Lillian, Ohio, verão de 1979. Joe (Joel Courtney), Alice (Elle Fanning) e seus amigos participam da produção de um filme amador, quando testemunham um incrível acidente de trem, que marca o início de outros tantos acontecimentos estranhos. Nos dias que se seguem, os garotos só querem terminar o filme, mas a presença dos militares e as desavenças entre os pais de Joe e Alice parecem ser só uma parte muito pequena do problema.
Depois de algumas produções consideradas desastrosas, como o quarto Indiana Jones, Spielberg parece estar tentando voltar às origens. Super 8 é para os adolescentes de hoje o que E.T. foi nos anos 80 para as crianças (e para alguns já um tanto crescidinhos à época): uma fábula disfarçada de ficção científica. É verdade que o trabalho de escrever (razoável) e de dirigir (competente) foi de J. J. Abrams, mais conhecido por produzir séries bem-sucedidas na TV, como Alias e Fringe, mas é impossível não perceber a mão de Spielberg no que ele realmente sabe fazer: efeitos especiais e trabalhar com atores-mirins.
O enredo é bem previsível, como são, em geral, as produções spielberguianas. Os efeitos especiais não chamam a atenção, para bem ou para mal, porque já estamos mais do que acostumados com eles, mas ajudam a criar um pequeno clima de tensão, mesmo que seja tudo muito óbvio. O que realmente segura o filme é o trio formado por Joel Courtney, 15, Elle Fanning, 13, e Riley Griffiths, 14, todos muito convincentes. Muito provavelmente, eles vão atrair cada vez mais a luz dos holofotes (o que nem sempre é positivo, quando se trata de atores-mirins).
Para quem foi criança ou adolescente nos anos 80, Super 8 traz uma série de boas lembranças cinematográficas. É uma espécie de cruzamento entre E.T., Goonies e Contatos Imediatos, numa versão mais heavy metal, mas que não chega a ser hardcore, se é que consigo me fazer entender. Não é um filme imperdível, mas, diante da profusão de histórias disconexas que tem tomado os cinemas, até a superficialidade da eterna questão spielberguiana — quem é o verdadeiro monstro, afinal? — parece muito profunda.
Encerro com uma recomendação que já virou praxe quando falo de cinema: não se preocupe em ver em 3D.

quinta-feira, 25 de agosto de 2011

LANTERNA VERDE (Green Lantern) (EUA) (2011)


Hal Jordan (Ryan Reynolds), piloto de testes de uma companhia aeronáutica militar, é escolhido para fazer parte da Tropa dos Lanternas Verdes, uma corporação policial interplanetária. Sua arma é um anel capaz de gerar construtos de energia a partir da imaginação. A situação de Jordan não é das mais fáceis: além de ser o primeiro humano selecionado pela Tropa, é recrutado para assumir o setor do maior Lanterna Verde de todos os tempos, morto em ação, em meio a uma crise que pode destruir a Tropa e o próprio universo. Tudo isso e ele nem ao menos consegue resolver a vida com a namorada.
Esqueça tudo o que você sabe sobre Hal Jordan e a Tropa dos Lanternas Verdes (o tamanho do esforço varia conforme seu conhecimento). Se você é, como eu, um fã de longa data e chato (ênfase no chato), é o único jeito de se divertir com esse filme. Roteiro muito fraco, cheio de furos lógicos, atuações fracas e ritmo apressado demais. A animação de longa-metragem, Lanterna Verde: Primeiro Vôo é mil vezes superior.
Se você não conhece a história de Jordan e da Tropa ou se é menos chato do que eu (admito que isso é muito provável), vai reconhecer que o filme tem seus méritos e pode até vir a ser uma agradável distração. A história do herói que supera as limitações para vencer um desafio muitas vezes superior sempre funciona.
Como era de se esperar, os efeitos visuais são muito bons, especialmente os construtos de energia verde. Também gostei muito da concepção orgânica do uniforme da Tropa. Mas nada que justifique o ingresso mais caro de uma sessão em 3D.
Resumindo, Lanterna Verde é um daqueles casos de “ame ou odeie”. Como fã dos quadrinhos, principalmente da Tropa, muito mais do que do próprio Lanterna Jordan, considero o filme um verdadeiro fracasso, mas consigo entender o que levaria outras pessoas a gostar dele.

quarta-feira, 3 de agosto de 2011

CAPITÃO AMÉRICA: O PRIMEIRO VINGADOR (Captain America: The First Avenger) (EUA) (2011)

☻☻☻

Dotado de grande coragem e profundo senso de justiça, o jovem Steve Rogers (Chris Evans) é recusado pelo exército por ser fisicamente incapaz. Mas são essas características que levam o doutor Erskine (Stanley Tucci) a escolhê-lo para ser cobaia numa experiência científica que pretende criar um exército de supersoldados. Apesar do sucesso da experiência, o Coronel Phillips (Tommy Lee Jones) não acredita que um supersoldado sozinho possa fazer diferença na guerra e os burocratas do governo só conseguem vê-lo como uma figura carismática para a propaganda de guerra. Mas o desaparecimento do amigo Bucky Barnes (Sebastian Stan) e a confiança da agente Peggy Carter (Hayley Altwell) colocam o Capitão América no encalço do terrível Caveira Vermelha (Hugo Weaving), líder de uma poderosa organização que se rebelou contra Hitler e pretende dominar o mundo.
Seguindo o padrão de suas últimas produções, a Marvel fez um bom filme-pipoca: enredo simples, linguagem adolescente, efeitos especiais convincentes e boas atuações, a considerar as possibilidades do roteiro e do elenco. Sem inovações e surpresas, Capitão América prova que mesmo uma história manjada pode ser boa se for bem-contada. Aliás, um de seus pontos positivos é exatamente ser um filme simples e despretensioso.
Sempre achei o Capitão América mais interessante como representação do pensamento político americano do que como personagem de história-em-quadrinhos. Aqui no Brasil, temos a tendência a fazer pouco caso e, muitas vezes, tratar com animosidade o patriotismo norte-americano — situação que costumo atribuir, em grande parte, à nossa própria falta de patriotismo, mas essa é uma outra discussão para um outro momento. Por isso, me surpreendeu a dificuldade que foi conseguir ingressos para a estréia, bem como o tamanho da fila que fomos obrigados a enfrentar para entrar na sessão. Meu maior receio era que o filme se tornasse mais um dos insuportáveis filmes-propaganda que volta e meia os estúdios hollywoodianos despejam sobre o mundo. Felizmente, não é o caso.
É claro que um filme sobre um miltar americano com capacidades sobre-humanas e que enfrenta uma organização terrorista que tenta dominar o mundo não tem como ser isento — e essa tal de isenção nunca existiu, mas também é assunto para outro momento. O fato é que Capitão América tinha todas as condições para ser um dos filmes mais panfletários de todos os tempos, mas todo o tradicional discurso sobre os EUA como a última linha de defesa da democracia ocidental está inserido de um modo que faz sentido dentro de todo o contexto filmográfico sobre o papel estadunidense na II Guerra Mundial. A questão é que o cinema-de-guerra americano nunca é um retrato da guerra em si, mas do mito americano sobre seu papel na guerra.
Resumindo, Capitão América é um filme simples e politicamente correto, que consegue ser divertido por não tentar se levar a sério.
Uma última palavra aos que ainda estão pensando em assistir: não se preocupem em ver em 3D. Não existe nenhuma cena que realmente faça valer a pena o preço mais alto.

Conheça, também, o primeiro Aleateorias.