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quarta-feira, 7 de setembro de 2011

ENCRUZILHADAS

© Images.com/Corbis

Deu vontade de escrever hoje. Só não sei sobre o quê. Assuntos não faltam. É Dia da Independência, Rogério Ceni está fazendo sua milésima partida pelo São Paulo neste momento, tenho uma série de inquietações na cabeça, qualquer coisa seria um tema muito bom para um post. Mas o fato é que, embora eu queira escrever, não tenho a tranqüilidade necessária para amadurecer alguma idéia.
Escrever é uma das coisas que me ajudam a colocar as idéias em ordem. No geral, resolvo isso dentro da minha cabeça mesmo, mas às vezes as coisas são tão agitadas aqui dentro que escrever se torna necessário. A bem da verdade, escrevo muito mais para mim mesmo do que para meus leitores. Enquanto a maior parte dos blogueiros escreve para compartilhar suas idéias com outros, eu escrevo para que eu mesmo tenha uma visão mais clara do que estou realmente pensando. Mais uma demonstração da minha absurda tendência a me colocar no centro do universo — conceitual, não físico, é claro.
Sinto-me um tanto perdido no momento. E não posso dizer o que me faz sentir isso porque também não consigo identificar a origem. Ao menos não por enquanto. Talvez até o fim do post eu descubra. Ou o fim da vida, que provavelmente vai demorar mais do que o fim do post para chegar.
Houve um tempo em que não ter certeza das coisas me incomodava muito. Também é verdade que sempre gostei de improvisos, como decidir na última hora o que comer ou só saber o que tem no cinema na hora de entrar na fila, mas essas são aquelas pequenas incertezas que a mente comum consegue assimilar com facilidade. Também é verdade que meu quarto parece ser uma demonstração muito precisa da descrição de como funcionam sistemas caóticos e que por isso me obriguei a ter uma mente muito organizada para compensar o fato de que é muito difícil encontrar alguma coisa específica aqui. Ordem e caos, luz e trevas, bem e mal, certeza e dúvida. Sempre me considerei o exemplo vivo da ambigüidade universal.
Venho descobrindo que a sensação de incerteza já não me incomoda tanto. Ou, para ser mais claro, me incomoda, mas de uma maneira diferente. Como qualquer outra pessoa, experimento um pouco de frustração por perceber que não consigo controlar muita coisa na minha vida e, portanto, sou obrigado a reconhecer que eu seria um péssimo centro do universo, o que, felizmente, não sou. Ao mesmo tempo, é bom saber que minhas imperfeições me obrigam a me submeter aos desígnios divinos, às convenções sociais e ao julgamento de outras pessoas, mesmo que eu não reconheça a capacidade da maioria das pessoas de realmente me julgar com coerência e justiça.
Antes que me acusem de ser excessivamente arrogante — e reconheço que sou — e de não reconhecer qualquer autoridade sobre mim, devo dizer que realmente acredito em Deus e em seu julgamento — que quase certamente resultaria na minha condenação — e na doutrina protestante da salvação pela fé no sacrifício de Cristo, o que, de certo modo, me isenta da obrigação de ser perfeito, uma vez que o reconhecimento da graça divina significa, necessariamente, reconhecer a minha incapacidade de atingir a perfeição por minhas próprias forças, embora não me torne menos culpado por não atingir os padrões de santidade que seriam logicamente exigidos de alguém que acredita carregar o título de filho (adotivo) de Deus — o que novamente me coloca na lista dos condenáveis.
Acho que essa é a parte legal da incerteza. Sentir-me perdido, sem nem saber por quê, me obriga a reconhecer que dependo muito mais do cuidado e do amor de Deus do que minha quase constante certeza de auto-suficiência me faz acreditar. E se alguém tão arrogante quanto eu consegue reconhecer isso, talvez eu não seja um caso tão perdido assim.

Um comentário:

Dilberto L. Rosa disse...

Ah, as "elucubrações do meu umbigo": belas metalinguagens, meu caro, mas não se engane, não: somos (e escrevemos) para os outros, não temos como sermos ilhas de nós mesmos... E você não me parece perdido: seu texto continua bem encontradinho! Abração! E tem aniversário nos Morcegos!

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